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Renato Rabelo: Uma das maiores revoluções sociais do século 20

Ao anunciar, a 1º de outubro de 1949, a fundação da República Popular da China, Mao Tsétung encerrava um processo que podemos na atualidade afirmar que – juntamente com a grande revolução de outubro de 1917 na Rússia – é uma das maiores revoluções sociais do século 20.

Após 60 anos deste grandioso acontecimento cabe a nós, comunistas brasileiros, externar nossa alegria, apoio e solidariedade à causa para a qual a Grande Revolução de 1949 foi encetada. Na realidade, tal evento se expressa em um desenvolvimento econômico e social sem precedentes, com consequência prática e referência ímpar na atual quadra de libertação dos povos e da nova luta pelo socialismo.

A Revolução Nacional e Popular de 1949 ocorreu em função de um processo histórico iniciado com as primeiras agressões estrangeiras no final da primeira metade do século 19. A resistência à agressão e pilhagem externa ganhou corpo com a ação política e grande carisma do líder Sun Yatsen, responsável pela derrubada da monarquia e a proclamação da República em 1911. A grande Revolução Russa de 1917, que nas palavras do destacado líder comunista brasileiro João Amazonas, “inaugurou o século 20”, tornou-se a grande condição objetiva à abertura de novas perspectivas e formas de luta para o povo chinês. Sua primeira consequência na China, o movimento estudantil do “4 de maio”, ocorrido em 1919, colocou o proletariado chinês na cena política do país. Em 1920, o Manifesto Comunista é traduzido para o mandarim e em julho de 1921 é fundado o Partido Comunista da China (PCCh).

Desde então, foram 28 anos de profícua atividade política envolvendo uma série de formas de combate. Já em 1935 a liderança inconteste de Mao Tsétung é cristalizada e os 15 anos seguintes foram caracterizados por uma linha de ação política que demonstrou correção, na medida em que foi capaz de entrelaçar o marxismo-leninismo com as condições concretas de uma milenar e singular nação. A relação entre nacional e social foi amplamente explorada com a justa absorção da questão social como imperativo das represadas demandas das massas camponesas chinesas, tendo a Longa Marcha, e seu sucesso, como grande expressão de tal linha política. O "nacional", como elo de junção entre a estratégia e a tática, demonstrou sua centralidade no reconhecimento popular do papel dirigente do PCCh contra a infame ocupação do imperialismo japonês. O sucesso na Guerra Civil pós-Segunda Guerra Mundial contra as forças do Kuomintang foi síntese de uma justa prática, consequência de uma original concepção do marxismo-leninismo.

A Revolução de 1949 provocou várias reações imediatas. Como efeito da vitória dos exércitos aliados e do Exército Vermelho contra o nazismo na 2º Guerra Mundial, a Revolução Chinesa – ao fincar a bandeira do socialismo num país de 600 milhões de habitantes – provocou um salto qualitativo na correlação de forças em âmbito mundial. Ajudou a desnudar o caráter destrutivo e corrompedor do imperialismo norte-americano que desde então transformou a Ásia em palco de excelência para as suas políticas de agressão e pilhagem, que ficaram evidentes tanto na Guerra da Coréia quanto na selvagem ingerência bélica no Vietnã. Em ambos os casos, o Partido Comunista da China teve destacada e firme posição. Na Guerra da Coréia, os "Voluntários do Povo Chinês" ajudaram a expulsar o inimigo do território da Coréia Popular e no Vietnã a “Trilha Ho Chi Minh” cumpriu papel na transferência de suprimentos para o exército da resistência vietnamita. Em continentes como o latino-americano e africano, a presença política chinesa fez-se presente sob forma de auxílio material e política ao processo de independência e descolonização.

Os êxitos internos da Revolução de 1949 também merecem nota. Logrou-se a unificação nacional de seu território, sobretudo no continente, colocando fim a uma era de “pisoteamento da China” por potências que, irônica e cinicamente, hoje colocam-se na salvaguarda dos “direitos humanos”, da “democracia” e da “liberdade de expressão”. De um país com cerca de 90% de analfabetos, emergiu uma pátria capaz de lançar as bases da produção e teste da Bomba de Hidrogênio em 1964 e de seu satélite artificial no ano de 1972. De um país dominado pelo latifúndio, realizou a maior reforma agrária da história contemporânea. Da fome que ceifou milhares de vidas entre 1840 e 1949 a outro fenômeno – que apesar de contar com somente 6% das terras agricultáveis do planeta, porém com 20% da população mundial – cuja indignidade da falta de alimentos é parte de um passado cada vez mais distante.

Este processo de dignificação nacional e social acelerou com a aplicação, a partir do final de 1978, das chamadas “Quatro Modernizações” anunciadas, por Zhou Enlai, ainda em 1964. O processo de Reforma e Abertura encabeçado por Deng Xiaoping alçou o “socialismo com características chinesas” a um novo patamar. Patamar que possibilitou o país resistir com altivez aos ventos contra-revolucionários do final da década de 1980, que varreu o campo socialista, notadamente a URSS e o Leste europeu.

Desde então, aplicando um programa que partiu da constatação de que a China encontra-se na “etapa primária do socialismo”, logo depois a aplicação de uma formatação de tipo “economia de mercado sob orientação socialista”, permitiu que o país desse um salto de grande monta tanto na definição de seu sistema socialista, quanto da manutenção, em âmbito mundial, da perspectiva socializante.

São exatamente 30 anos de crescimento médio anual de 9,9% ao ano. Essa política de destravamento das forças produtivas redundou em condições objetivas para a aceleração do processo de reunificação do país sob os auspícios da idéia de “Um país, dois sistemas”. Em 1997 logrou o retorno de Hong-Kong ao seio da pátria. Fato seguido pela reincorporação de Macau em 1999. O caminho do retorno de Taiwan, apesar de mais complexo, deve seguir as mesmas premissas vitoriosas. Este grande nível de desenvolvimento tem possibilitado ao Estado chinês a transformação radical de realidades como a do Tibete e o de Xinjiang, onde – em que pese as digitais imperialistas no fomento de distúrbios internos – ficam cada vez mais irrefutáveis o caráter progressista e historicamente justo da participação destas minorias étnicas como elementos constitutivos da grande comunidade nacional chinesa, berço da tolerância e convivência de 56 nacionalidades.

Muito gratificante foi o espetáculo dos Jogos Olímpicos de Pequim em 2008. Síntese da capacidade de trabalho e criatividade do povo chinês. Na verdade, pode-se dizer que se o mundo – por ocasião dos citados Jogos Olímpicos – cedeu 17 dias para a China, nada mais justo que afirmarmos que a China presenteou a humanidade com seus cinco mil anos de história.

Cabe ainda registrar que as bases políticas lançadas pela Revolução de 1949 estão amplamente inseridas na altivez com que a China e seu partido dirigente, o PCCh, tem demonstrado ante os efeitos da presente crise financeira internacional. O montante de investimentos e a previsão de crescimento econômico da ordem de 8% é suporte fundamental à luta no Brasil, na América Latina e no mundo contra as “verdades absolutas” e perversidades advindas do modelo neoliberal.

Em nome dos comunistas brasileiros, não poderia deixar de registrar a coincidência histórica entre os 60 anos da Revolução Chinesa e os 35 anos de reatamento das relações diplomáticas entre nossas duas nações. Desde então um amplo e profícuo relacionamento tem sido aprofundado, tendo inclusive sido alçado ao grau de “parceria estratégica” no ano de 2004 por ocasião de visita de nosso presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, ao vosso país. O caráter estratégico desta parceria certamente terá grandes e positivas consequências no desenvolvimento futuro da humanidade.

Por fim, cumpre dizer que o Partido Comunista do Brasil guarda grande apreço pelos cada vez mais sólidos laços de amizade que unem nossos dois partidos. Somos contemporâneos, fundados e formados quase que simultaneamente. Que o futuro fortaleça nossos elos de independência e respeito mútuo.

Uma grande saudação ao povo chinês pela passagem do 60º aniversário da Revolução Chinesa!!!

Vida longa ao Partido Comunista da China!!!

Vida longa à amizade entre nossos partidos e povos

Brasília, agosto de 2009

José Renato Rabelo, Presidente Nacional do Partido Comunista do Brasil

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