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Estudantes da USP entram em greve contra presença da PM

Pelo menos 2 mil estudantes da Universidade de São Paulo (USP), presentes em assembleia na noite de terça-feira (8), no prédio do curso de História, aprovaram uma greve para protestar contra a presença da Polícia Militar (PM) no campus Butantã e a prisão de 73 pessoas durante a ação de reintegração de posse na manhã do mesmo dia, feita pela Tropa de Choque.

Sob gritos de ordem que pediam a saída da PM do campus, os participantes se dividiram em duas propostas, que foram votadas pelo grupo: o início imediato de greve ou um indicativo de greve para ser deflagrada na próxima assembleia, além de uma manifestação nas ruas. Após uma votação que precisou ser refeita três vezes, venceu a paralisação dos discentes. Agora, cada faculdade fará uma plenária para decidir como será a participação dos alunos.

-Veja aqui imagens exclusivas da assembleia desta terça.



Mas, apesar da divisão nas votações em dois grupos  – um a favor da greve imediata e outro pela greve para os próximos dias –, todos pareciam unânimes sobre a necessidade de fazer algo pela saída da Polícia Militar da cidade universitária.

Uma nova assembleia geral foi marcada para quinta-feira (11), no Largo do São Francisco, região central de São Paulo, em frente da Faculdade de Direito da USP. Um ato dos estudantes foi marcado para as 14 horas e a assembleia acontece logo depois, às 16 horas.

Durante a assembleia de ontem, convocada pelo Diretório Central dos Estudantes (DCE), que representa todos os universitários do campus, os jovens denunciaram as condições a que os presos foram submetidos: confinados dentro dos ônibus que os transportaram até o 91º DP, onde prestaram depoimentos, sem banheiro, sob sol forte, desde o começo da manhã.

“Liberdade aos presos políticos da USP”, ecoavam gritos dos estudantes nos corredores da FFLCH. Outros falavam em universidade sitiada: “Nesta manhã, a USP acordou em estado de sítio. Logo pela manhã, os moradores do Crusp foram acordados com bombas de gás lacrimogêneo. Além dos estudantes, tem mulheres e crianças que moram lá e sofreram da mesma forma com essa ação policial”.

Nenhum estudante que é contrário à presença da PM na cidade universitária quer se expor, dar a cara ou mesmo o primeiro nome. “Existe um medo geral pelo campus, muitos já sofrem processos administrativos por conta de ocupações anteriores, por terem exposto suas opiniões políticas. Por isso classificamos essas prisões como prisões políticas”, atestou outro estudante de Economia, que também faz parte de uma ocupação que há no Crusp, que pede mais moradia estudantil.

Um grupo de alunas debatia sobre um fato revelado em nota lida pelos estudantes presos durante a tarde, no 91º DP: “As estudantes foram jogadas no centro de uma sala escura e em volta delas formou-se um círculo de PMs com cassetetes nas mãos, uma cena típica de tortura”, exclamou uma estudante da FFLCH.

“Levaram uma das estudantes para a sala ao lado, que gritou durante trinta minutos, levando-nos ao desespero ao ouvir gritos como o das torturas que ainda seguem impunes em nosso país. Tudo isso demonstra o verdadeiro caráter e o papel do convênio entre a USP e a polícia militar”, diz um trecho do texto divulgado no blog do movimento.



Até quem não era estudante foi à assembleia para se solidarizar. Um grupo de professores da rede estadual, que pediu para não se identificar, deu aulas para alguns dos que foram detidos e afirmaram que são pessoas corretas e honestas. “Mesmo quem não é politizado, precisar parar e refletir sobre o que está acontecendo. É uma violência contra esses meninos, não são bandidos que estão lá. Hoje são os estudantes que estão sofrendo, amanhã somos nós professores, trabalhadores e por aí vai”, alertou uma das professoras.

Fiança
No final da noite de ontem, os primeiros estudantes foram soltos. Em grupos de quatro pessoas, eles eram encaminhados ao Instituto Médico Legal (IML) para perícia rotineira. Para saírem precisaram pagar uma fiança, inicialmente, de R$ 1.050, cada um. No entanto, o valor foi reduzido para R$ 545, cada. Em solidariedade ao movimento estudantil, os movimentos sociais realizaram uma rápida e eficaz mobilização para arrecadar o valor total de R$ 39.240.
“Nos solidarizamos com a causa. Uma invasão da polícia no campus dessa forma só foi visto na ditadura militar. Por isso, disponibilizamos uma equipe de advogados e organizações de todo o país se manifestaram a favor dos estudantes e doaram recursos”, contou ao Vermelho Luiz Carlos Prates Mancha, diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, presente na assembleia, e integrante da Coordenação Nacional de Lutas (ConLutas), que encabeçou o rateio dos valores para os presos.
Os universitários presos podem ser acusados de dano ao patrimônio público, crime ambiental e desobediência civil. A reitoria acusa o grupo de ter depredado o espaço da reitoria, ocupado desde o dia 1º de novembro. Para reforçar essa tese, a grande mídia tem exibido imagens da reitoria com móveis amontoados, restos de comida na cozinha e paredes pichadas. Nas paredes, palavras pedem a saída do reitor João Grandino Rodas.
Além disso, a polícia apresentou bombas caseiras que teriam sido encontradas no local. Os estudantes negam ter danificado o prédio da reitoria e de fabricarem as bombas. “Foi plantado, assim como o mobiliário quebrado”, disse em entrevista a um portal, o estudante de letras, Rafael Alves.
Durante o dia, pais dos alunos que estiveram na 91º DP criticaram a prisão dos filhos. Para não prejudicarem os jovens, pais e mães não se identificaram. Numa folha de papel escrita por um deles, mandaram a seguinte mensagem:
“Nós, pais de alunos da USP, repudiamos o modo como foi conduzido pela reitoria o processo envolvendo o movimento dos estudantes. Repudiamos a ação repressiva e truculenta das forças policiais no campus da universidade nessa madrugada de terça-feira. Estamos indignados com o fato de que uma instituição educativa utiliza como principal instrumento de solução de conflito social o uso da força policial. Nossos filhos são estudantes e não bandidos e estão em defesa de uma universidade onde existam debates democráticos”, diz o texto.

Histórico
No início da manhã, a Polícia Militar (PM) desocupou a reitoria da USP à força em cumprimento a uma ordem judicial que estabelecia prazo até as 23h de segunda-feira (7) para que os ocupantes deixassem o prédio.
O que deflagrou a ocupação da reitoria foi a prisão de três universitários, na quinta-feira (27), depois de serem abordados por policiais. Eles estavam portando maconha no estacionamento da faculdade de História e Geografia. O fato causou confronto entre estudantes e policiais que culminou com a ocupação da FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas) e, posteriormente, da reitoria.
Mas, antes disso, muitos estudantes, professores e trabalhadores do campus já vinham denunciando que a presença da PM na USP faz parte de uma ação da reitoria e do governo do estado para restringir o movimento estudantil, além de ferir a autonomia da universidade.

Abaixo, a nota dos estudantes:

Nota pública dos presos políticos da USP

São Paulo, 08 de novembro de 2011 - 14h15
Nós, estudantes da USP, que lutamos contra a polícia na universidade e pela retirada dos processos administrativos contra estudantes e trabalhadores, viemos por meio desta nota pública denunciar a ação da tropa de choque e da polícia militar na madrugada do dia 8/11.
Numa enorme demonstração de intransigência em meio ao período de negociação e na calada da noite, a reitoria foi responsável pela ação da tropa de choque da PM que militarizou a universidade numa repressão sem precedentes. Num operativo com 400 homens, cavalaria, helicópteros, carros especializados e fechamento do Portão 1 instalou-se um clima de terror, que lembrou os tempos mais sombrios da ditadura militar em nosso país.
Resistimos e nos obrigaram a entrar em salas escuras, agrediram estudantes, filmaram e fotografaram nossos rostos (homens sem farda nem identificação). Levaram todas as mulheres (24) para uma sala fechada, obrigando-as a sentarem no chão e ficarem rodeadas por policiais homens com cassetetes nas mãos. Levaram uma das estudantes para a sala ao lado, que gritou durante trinta minutos, levando-nos ao desespero ao ouvir gritos como o das torturas que ainda seguem impunes em nosso país. Tudo isso demonstra o verdadeiro caráter e o papel do convênio entre a USP e a polícia militar.
A ditadura vive na USP. Tropa de choque, polícia militar, perseguições a estudantes e trabalhadores, demissão de dirigentes sindicais, espionagem contra ativistas e estudantes, repressão através de consultas psiquiátricas aos moradores do CRUSP (moradia estudantil).
Nós, que estamos desde as 5h sob cárcere e controle dos policiais, chamamos todos a se manifestarem contra a prisão de 73 estudantes e trabalhadores por lutarem com métodos legitimos por seus direitos.
Responsabilizamos o reitor João Grandino Rodas, e toda a sua burocracia acadêmica e o governador do estado de SP Geraldo Alckmin, junto ao seu secretário de Seguranca Pública, por toda a repressão dessa madrugada. Reafirmamos nossa luta contra a polícia, dentro e fora da universidade, que reprime a população pobre e trabalhadora todos os dias.
Fora PM! Revogação do convênio! Retirada dos processos! Liberdade aos presos políticos!

"Pode me prender, pode me bater, pode até deixar-me sem comer, que eu não mudo de opinião! Porque da luta eu não saio não!"

Por Deborah Moreira, da redação do Vermelho, colaborou Carla Santos

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