Carlos lamarca
Militar e
guerrilheiro fluminense (23/10/1937-17/9/1971). Filho de carpinteiro, faz o
ginásio em colégio de padres e ingressa na Escola Preparatória de Cadetes, em
Porto Alegre, em 1955. Dois anos depois é transferido para a Academia Militar
das Agulhas Negras, em Resende (RJ), e declarado aspirante-a-oficial em 1960.
Setembro de 1970
Carlos Lamarca (Rio de Janeiro, 23 de outubrode 1937 — Pintada,
17 de setembro de 1971) foi um dos líderes da guerrilha urbana de orientação
comunista armada que se opôs ao regime militar brasileiro instalado no país em
31 de março de 1964.
Capitão do Exército Brasileiro, desertou em 1969 furtando um carregamento de fuzis do Exército Brasileiro e tornando-se um dos comandantes da Vanguarda Popula Revolucionária (VPR), organização da guerrilha armada de extrema-esquerda que combatia o governo militar. Elevado à condição de ícone revolucionário do comunismo guerrilheiro e da esquerda brasileira,foi condenado pelo regime militar como traidor e desertor e considerado seu principal inimigo.Caçado pelas forças de segurança por todo o país, ele comandou diversos assaltos a bancos, montou um foco guerrilheiro na região do Vale do Ribeira, sul do estado de São Paulo e liderou o grupo que sequestrou o embaixador suíço Giovanni Bucher no Rio de Janeiro, em 1970, em troca da libertação de 70 presos políticos. Matou com coronhadas na cabeça o tenente da Polícia Militar de São Paulo, Alberto Mendes Junior, que havia se entregue a Lamarca, em troca da libertação de outros soldados aprisionados pela celula guerrilheira.
Perseguido por mais de dois anos pelos militares, foi localizado e morto no interior da Bahia em 17 de setembro de 1971. Trinta e seis anos após sua morte, a Comissão de Anistia do Ministério da Justiça sob supervisão do Ministro da Justiça Tarso Genro, dedicou sua sessão inaugural a promovê-lo a coronel do Exército e a reconhecer a condição de perseguidos políticos de sua viúva e filhos.
Em 1962, integrou o Batalhão Suez nas Forças de Paz da ONU na região de Gaza, Palestina, onde serviu na 7ª Companhia sob as ordens do major Alcio Costa e Silva, filho do futuro presidente da República e de onde retornou dezoito meses mais tarde, com as primeiras ideias socialistas, graças à pobreza que testemunhou no local e ao começo da leitura de clássicos marxistas. Numa carta a amigos, afirmou que se fosse preciso entrar em combate, entraria ao lado dos árabes, impressionado com a realidade deste povo na região, que considerava cruel. De volta ao Brasil em 1963, estava servindo à 6ª Companhia de Polícia do Exército, em Porto Alegre, quando ocorreu o golpe militar de 1964. Em dezembro do mesmo ano, ainda servindo no sul, deu fuga a um capitão brizolista que estava sob sua guarda.
O plano imediato era que Lamarca e seus companheiros de farda desertariam em 26 de janeiro, levando do 4º Regimento cerca de 560 fuzis, muita munição e dois obuses. A VPR então criaria um clima de guerra civil no país, bombardeando o Palácio dos Bandeirantes, a Academia de Polícia e o QG do II Exército, tomando também a torre de comunicação do Campo de Marte. O plano entretanto, foi frustrado pelo acaso. Três dias antes da data marcada, o caminhão pintado com as cores do exército, que seria usado para a retirada das armas, foi descoberto numa chácara em Itapecerica da Serra, perto de São Paulo, enquanto sua pintura era terminada, porque um menino das redondezas que se acercou do local foi maltratado pelos pintores e reclamou com o pai que chamou a polícia. Três integrantes da VPR, ex-militares, foram presos, se passando por contrabandistas.
O fato acabou com o fator surpresa esperado e obrigou a ação a ser antecipada. Em 24 de janeiro de 1969, acompanhado do sargento Darcy, do cabo José Mariani e do soldado Roberto Zanirato, ele fugiu do 4º Regimento de Infantaria de Quitaúna numa Kombi, levando consigo 63 fuzis FAL, três metralhadoras leves e alguma munição, bem menos que o pretendido. Lamarca deixava as Forças Armadas e entrava na clandestinidade, na qual viveria até sua morte.
A VPR, porém, passa por um momento de grande desarticulação interna após a prisão de vários de seus integrantes, e realiza um congresso clandestino para discutir suas próximas ações. Nela, Lamarca é eleito dirigente. No meio do ano, a VPR une-se ao Comando de Libertação Nacional (COLINA) e ao pequeno grupo gaúcho União Operária e formam a VAR-Palmares. Durante estes acontecimentos, ele dá uma entrevista em lugar desconhecido à revista chilena Punto Final, onde diz que aqueles "ainda são os primeiros passos do que será uma longa e dolorosa guerra", e faz uma operação plástica que lhe diminui o nariz. Em novembro, sempre escondido e trocando constantemente de refúgios junto com Iara, chora emocionado diante da televisão com o anúncio da morte de Carlos Marighella.
No fim de abril, vários integrantes da VPR são presos no Rio de Janeiro, incluindo dois do Comando Nacional, Maria do Carmo Brito e Ladislau Dowbor Um dos presos deixa escapar que Lamarca encontra-se em algum lugar próximo do km 250 da BR-116.O local é o Vale do Ribeira, no sul do estado de São Paulo, em torno da região de Registro. Em 21 de abril, as Forças Armadas tomaram o local com 2.500 homens, mais um contingente de policiais cedidos pelo governo de São Paulo,bloqueou estradas vicinais, prendeu 120 pessoas, varreu a mata com helicópteros, fechou a Rodovia Régis Bittencourt e usou um B-26 da FAB para bombardear áreas civis suspeitas de abrigarem os guerrilheiros.
Os soldados, de dez unidades diferentes, entretanto eram em sua maioria recrutas com três meses de instrução, sem preparo de tiro e vários carregando mosquetões. Os guerrilheiros eram 17, e avisado, Lamarca desmontou as bases e enfiou-se fundo na mata. Oito deles conseguiram sair da região misturados à população e dois foram presos pelos militares, incluindo o ex-sargento Darcy Rodrigues, depois de se perderem do resto do grupo ao se aproximarem demais das tropas do governo para fazer observação. Sobraram sete para enfrentar o exército. Durante semanas, o pelotão formado por Lamarca, Ariston Lucena (de 17 anos), Yoshitane Fujimori, Edmauro Gopfert, Gilberto Faria Lima, José Araújo da Nóbrega e o ex-soldado da Brigada Gaúcha Diógenes Sobrosa de Souza,vagou pela mata do vale.
O primeiro encontro entre os grupos se deu em 8 de maio, quando os guerrilheiros, se passando por caçadores, entraram no vilarejo de Barra do Areado querendo alugar uma camionete. A Polícia Militar (então Força Pública) foi avisada e uma barreira montada em Eldorado Paulista. Com a aproximação do caminhão, os soldados pediram aos ocupantes que descessem e mostrassem os documentos; Lamarca e seus homens desceram atirando, feriram dois soldados, dispersaram a tropa e continuaram o caminho. O próximo confronto, na mesma noite, foi perto de Sete Barras. Cruzando com um contingente da PM, a luta é rápida e o treinamento dos guerrilheiros e sua superioridade em armamento - os fuzis FAL roubados de Quitaúna - decide o combate. A tropa de policias militares, um tenente, dois sargentos, dois cabos e onze soldados, estão mortos, feridos ou aprisionados. O comandante da tropa é o tenente Alberto Mendes Júnior, de 23 anos.
Feito um acordo entre Lamarca e o tenente, a barreira policial na estrada foi aberta em troca de devolução dos feridos e prisioneiros. Mendes seguiu com os guerrilheiros no caminhão, transformado em refém. Pouco depois na estrada, um outro comboio militar foi avistado e os guerrilheiros embrenharam-se na mata. Depois de dias caminhando, toparam com uma escaramuça entre duas tropas do exército, travado por tropas do 6º Regimento de Infantaria e do Destacamento Logístico, que atiraram umas nas outras pensando ser o inimigo, resultando em dois feridos, um tenente-coronel e um soldado. Na confusão provocada, dois guerrilheiros perderam-se do grupo e acabaram aprisionados dias mais tarde. Restaram apenas cinco homens e o tenente Mendes, prisioneiro do grupo.
Com a fuga sendo retardada pela presença de Mendes - que já havia tentado capturar uma metralhadora, impedido por Lucena- e a desconfiança de que ele os tinha levado a uma emboscada - o encontro anterior com as tropas do governo - Lamarca e seus homens decidiram matar o prisioneiro. O tenente Mendes foi então assassinado por Yoshitane Fujimori a coronhadas de fuzil - receosos de que um tiro pudesse mostrar sua localização aos perseguidores - tendo seu crânio esfacelado a pauladas e o corpo deixado na mata, em cova rasa.
Os cinco continuaram pela mata enquanto a busca por eles se intensificava, acampando por vários dias sobre uma grande pedra, para protegerem-se da chuva, alimentando-se de abacaxis e bananas. Por três vezes tentaram descer a algum povoado para comprar comida e por três vezes foram denunciados. Emboscados mais uma vez por causa das denúncias, desta vez por uma patrulha sob as ordens do coronel Erasmo Dias - que não participou pessoalmente da busca - escaparam mais uma vez pela floresta.
O rompimento final do cerco se deu 41 dias depois do início do mesmo. Famintos e com os pés feridos, o grupo resolveu tentar a sorte na estrada. O mais jovem, sem ficha na polícia, Gilberto Faria Lima, faz sinal para um ônibus da linha Sete Barras-São Miguel e vai embora sem ser incomodado. Na tarde de 31 de maio, os quatro que restaram, Lamarca, Ariston Lucena, Yoshitane e Diógenes, resolvem parar qualquer veículo que viesse pela estrada e tomá-lo. O primeiro a aparecer foi justamente um caminhão do exército, do Regimento de Obuses de Itu. Os ocupantes, cinco soldados, foram rendidos e deixados de cuecas dentro do veículo. Usando os uniformes da patrulha, o grupo seguiu nele até darem em uma última barreira perto de Taquaral. Parados por homens do exército e inquiridos para onde iam, Lucena respondeu com um simples: "É ordem do coronel".Sem maiores averiguações, a barreira foi aberta e às 22:30 da mesma noite, os guerrilheiros abandonavam o veículo na Marginal Tietê, na cidade de São Paulo, com os prisioneiros dentro, dispersando-se. Lamarca e seus homens tinha escapado da maior mobilização da história do II Exército.
Passa a
servir no 4º Regimento de Infantaria, em Quitaúna, na cidade de Osasco (SP). É
enviado para integrar as Forças de Paz da ONU na região de Gaza (Palestina), de
onde volta 18 meses depois. Está ligado à 6a Companhia de Polícia do Exército,
em Porto Alegre, quando ocorre ogolpe militar de 1964. Volta a Quitaúna em 1965
e é promovido a capitão em 1967.
Faz
contatos com as forças de esquerda que
defendem a luta armada para derrubar a ditadura e, em 1969, abandona o quartel
para unir-se à organização clandestina Vanguarda Popular Revolucionária (VPR),
levando armas da guarnição para a guerrilha.
Exímio
atirador, torna-se um dos mais ativos militantes da oposição armada ao Regime
Militar. Participa de diversas ações, como assaltos a bancos, e instala um foco
guerrilheiro no Vale do Ribeira, no sul do estado de São Paulo, desarticulado
em 1970 pelo Exército.
No mesmo
ano comanda o sequestro do embaixador suíço no Brasil, Giovanni Enrico Bucher,
no Rio de Janeiro, e foge para a Bahia. Em 17 de setembro de 1971 é localizado
na zona agreste baiana, no município de Ipupiara, e assassinado pelas forças da
repressão.
Biografia
Filho de pais pobres, Lamarca nasceu em
23 de outubro de 1937 e viveu, até os dezessete anos, no Morro de São Carlos,
no Rio de Janeiro, com seus irmãos e uma irmã de criação, Maria Pavan, que
viria a ser sua esposa, após ter sido engravidada por Lamarca, quando este
cursava a Academia Militar.
Carreira no Exército
Brasileiro
Ingressou, em 1955, na Escola
Preparatória de Cadetes, em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Dois anos mais
tarde foi transferido para a Academia Militar das Agulhas Negras, em Resende,
no Rio de Janeiro. Concluído o curso, foi declarado aspirante-a-oficial,
classificado em 46º lugar numa turma de 57 cadetes (1960), e passou a servir no
4º Regimento de Infantaria, em Quitaúna, na cidade de Osasco, em São Paulo.
Integrou o Batalhão Suez, nas Forças de
Paz da ONU na região de Gaza, Palestina, de onde retornou dezoito meses mais
tarde. Estava servindo à 6ª Companhia de Polícia do Exército, em Porto Alegre,
quando ocorreu o golpe militar de 1964.
De volta a Quitaúna em 1965, foi
promovido ao posto de capitão em 1967. Iniciou contatos com facções de esquerda
que defendiam a luta armada para derrubar o governo militar e implantar um
regime socialista de esquerda. Em 24 de janeiro de 1969, deixou o exército para
unir-se à organização clandestina Vanguarda Popular Revolucionária (VPR).
Lamarca deixou Quitaúna com a carga de 63 fuzis FAL, algumas metralhadoras
leves e muita munição. Esse furto de armamento foi organizado e executado por
ele e pelo sargento Darcy Rodrigues, também integrante do quadro de Quitaúna, e
que supostamente teria aliciado Lamarca a ingressar na VPR. Participaram também
da ação o cabo Mariani e soldado Roberto Zanirato, morto sob tortura na OBAN
(DOI-CODI/SP).
Em 2007, trinta e seis anos após a sua
morte, foi promovido a Coronel do Exército pela Comissão de Anistia.
Guerrilha
Lamarca tornou-se um dos mais ativos
guerrilheiros da oposição armada ao regime militar brasileiro. Participou de
diversas ações, como assaltos à bancos, num dos quais assassinou com dois tiros
o guarda civil Orlando Pinto Saraiva. Em seguida, instalou um comitê de
resistência no Vale do Ribeira, no sul de São Paulo, desarticulado em 1970 por
forças do Exército, após a prisão de vários militantes da VPR em abril de 1970,
e, principalmente após a prisão de Maria do Carmo Brito, uma das dirigentes
nacionais da VPR, no dia 18 de abril de 1970, o exército chegou até a área
ativa de treinamento da VPR.
Nessa época, no dia 10 de maio de 1970,
participou, com outros quatro guerrilheiros, do assassinato do Tenente Alberto
Mendes Júnior, da Força Pública (denominação da Polícia Militar de São Paulo
até 1970), que teve seu pelotão emboscado pelo grupo de Lamarca.
No mesmo ano Lamarca comandou o
sequestro do embaixador suíço no Brasil, Giovanni Enrico Bucher, com o fim de
trocá-lo por presos políticos no Rio de Janeiro. Nessa ação, o agente da
Polícia Federal Hélio Carvalho de Araújo, que fazia segurança do embaixador
suíço, foi morto por Lamarca.
Em abril de 1971, desligou-se da VPR e
ingressou no MR-8. Embora se afirme que por essa razão fugiu para a Bahia,
Lamarca estava seguindo planos da organização, que acreditava ter chegado a
hora de iniciar a revolução no campo. Em 17 de setembro de 1971 foi localizado
na região do Agreste baiano, no povoado de Pintada, distrito de Ibipetum, atual
município de Ipupiara (então desmembrado do município de Brotas de Macaúbas).
Localizado, foi morto por um pequeno Comando Especial do Exército, comandado
pelo Major Cerqueira, junto com o metalúrgico José Campos Barreto,
guerrilheiro da VPR.
Em seus livros A Ditadura
Escancarada e Lamarca, o capitão da guerrilha, Elio Gaspari,
Emiliano José e Oldeck Miranda, descrevem os momentos finais de Lamarca com ele
sendo carregado nas costas por seu companheiro Zequinha, depois dos dois
atravessarem 300 km de sertão fugindo das tropas de Cerqueira. Encontrados
descansando sob uma árvore em Pintada, Zequinha foi metralhado e Lamarca morto
ainda deitado. Seus corpos foram levados para a base aérea de Salvador, jogados
no chão e fotografados. Lamarca ainda tinha os olhos abertos.
Enquanto a esposa de Lamarca se
encontrava exilada em Cuba desde 1968, com os dois filhos do casal, durante a
clandestinidade, Lamarca conheceu Iara Iavelberg, que se tornou sua
companheira. Ela havia sido morta dias antes da morte de Lamarca, em
circunstâncias não esclarecidas, em um apartamento em Salvador, na Bahia.
Depois de vários anos a família de
Carlos Lamarca teve aprovação no pedido de Anistia. Por decisão da Comissão de
Anistia, a viúva Maria Pavan Lamarca e seus dois filhos tiveram aprovados uma
indenização de 100 mil reais para cada um como compensação do período que
passaram exilados em Cuba.
Carlos Lamarca
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Nascimento
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23 de
Outubro de 1937 (75 anos)
Rio de Janeiro, Brasil |
Morte
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17 de
setembro de 1971 (33 anos)
Pintada, Brasil |
Nacionalidade
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Ocupação
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Militar, guerrilheiro
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Capitão do Exército Brasileiro, desertou em 1969 furtando um carregamento de fuzis do Exército Brasileiro e tornando-se um dos comandantes da Vanguarda Popula Revolucionária (VPR), organização da guerrilha armada de extrema-esquerda que combatia o governo militar. Elevado à condição de ícone revolucionário do comunismo guerrilheiro e da esquerda brasileira,foi condenado pelo regime militar como traidor e desertor e considerado seu principal inimigo.Caçado pelas forças de segurança por todo o país, ele comandou diversos assaltos a bancos, montou um foco guerrilheiro na região do Vale do Ribeira, sul do estado de São Paulo e liderou o grupo que sequestrou o embaixador suíço Giovanni Bucher no Rio de Janeiro, em 1970, em troca da libertação de 70 presos políticos. Matou com coronhadas na cabeça o tenente da Polícia Militar de São Paulo, Alberto Mendes Junior, que havia se entregue a Lamarca, em troca da libertação de outros soldados aprisionados pela celula guerrilheira.
Perseguido por mais de dois anos pelos militares, foi localizado e morto no interior da Bahia em 17 de setembro de 1971. Trinta e seis anos após sua morte, a Comissão de Anistia do Ministério da Justiça sob supervisão do Ministro da Justiça Tarso Genro, dedicou sua sessão inaugural a promovê-lo a coronel do Exército e a reconhecer a condição de perseguidos políticos de sua viúva e filhos.
Carreira militar
Filho de pai sapateiro e mãe dona de casa, ele viveu até os 17 anos no Morro de São Carlos, no Estácio, no Rio de Janeiro, um entre sete irmãos. Fez o curso primário na Escola Canadá e o ginasial no Instituto Arcoverde.Em 1955, ingressa na Escola Preparatória de Cadetes, em Porto Alegre, e dois anos depois é transferido para a Academia Militar das Agulhas Negras, em Resende (RJ), onde forma-se como aspirante a oficial em 1960, 46º colocado entre os 57 alunos da turma Seu primeiro posto é no 4º Regimento de Infantaria, em Quitaúna, Osasco, São Paulo Magro, 1,70 m, olhos escuros, desde cedo destacou-se como exímio atirador, sendo o melhor de seu regimento, representando o II Exército num torneio de tiro em Recife. No mesmo ano, ele tem seu primeiro filho, César, de seu casamento no ano anterior com Maria Pavan, sua irmã de criação.Em 1962, integrou o Batalhão Suez nas Forças de Paz da ONU na região de Gaza, Palestina, onde serviu na 7ª Companhia sob as ordens do major Alcio Costa e Silva, filho do futuro presidente da República e de onde retornou dezoito meses mais tarde, com as primeiras ideias socialistas, graças à pobreza que testemunhou no local e ao começo da leitura de clássicos marxistas. Numa carta a amigos, afirmou que se fosse preciso entrar em combate, entraria ao lado dos árabes, impressionado com a realidade deste povo na região, que considerava cruel. De volta ao Brasil em 1963, estava servindo à 6ª Companhia de Polícia do Exército, em Porto Alegre, quando ocorreu o golpe militar de 1964. Em dezembro do mesmo ano, ainda servindo no sul, deu fuga a um capitão brizolista que estava sob sua guarda.
Lamarca, em 1968,
ainda no exército, dando treinamento de tiro para funcionárias do Bradesco.
Retornando a Quitaúna em 1965,
transferido a pedido de Porto Alegre, foi promovido ao posto de capitão em 1967.
Lá ele reencontra Darcy Rodrigues, um antigo companheiro, sargento do exército
preso em 1964 mas que havia sido reintegrado à força. Darcy era o homem que
fazia o trabalho de convencimento político no quartel e com ele Lamarca começou
a tomar contato com as obras de Lenin e Mao Zedong.Até então, Lamarca não tinha
qualquer militância registrada em partidos de esquerda organizados. A partir deste ano, iniciou contatos com
facções que defendiam a luta armada para derrubar o governo militar e implantar
um regime socialista no país. Disposto a desertar e juntar-se à guerrilha,
Lamarca começou a organizar uma célula comunista dentro do 4º Regimento, que
incluía o sargento, um cabo e um soldado. Em setembro de 1968, ele conseguiu
encontrar-se com o líder do PCdoB, Carlos Marighella, que ajudou-o a colocar
sua mulher e seus filhos fora do Brasil - foram viver em Cuba - como
salvaguarda da família para o que pretendia fazer. No mesmo ano, ironicamente,
enquanto amadurecia suas ideias de socialismo e deserção, Lamarca atuava como
instrutor de tiro para caixas de banco do Bradesco, por indicação do exército,
treinando funcionárias do estabelecimento bancário para enfrentar os assaltos
que então eram constantemente praticados pelas organizações de esquerda.Deserção e clandestinidade
Desde dezembro, logo após a instituição do AI-5, Lamarca mantinha contatos com Onofre Pinto, ex-sargento que com ele comandaria a VPR e responsável por diversas operações de guerrilha urbana realizadas em 1968, com a intenção de criarem um futuro foco de guerrilha rural estabelecida no estado do Pará.O plano imediato era que Lamarca e seus companheiros de farda desertariam em 26 de janeiro, levando do 4º Regimento cerca de 560 fuzis, muita munição e dois obuses. A VPR então criaria um clima de guerra civil no país, bombardeando o Palácio dos Bandeirantes, a Academia de Polícia e o QG do II Exército, tomando também a torre de comunicação do Campo de Marte. O plano entretanto, foi frustrado pelo acaso. Três dias antes da data marcada, o caminhão pintado com as cores do exército, que seria usado para a retirada das armas, foi descoberto numa chácara em Itapecerica da Serra, perto de São Paulo, enquanto sua pintura era terminada, porque um menino das redondezas que se acercou do local foi maltratado pelos pintores e reclamou com o pai que chamou a polícia. Três integrantes da VPR, ex-militares, foram presos, se passando por contrabandistas.
O fato acabou com o fator surpresa esperado e obrigou a ação a ser antecipada. Em 24 de janeiro de 1969, acompanhado do sargento Darcy, do cabo José Mariani e do soldado Roberto Zanirato, ele fugiu do 4º Regimento de Infantaria de Quitaúna numa Kombi, levando consigo 63 fuzis FAL, três metralhadoras leves e alguma munição, bem menos que o pretendido. Lamarca deixava as Forças Armadas e entrava na clandestinidade, na qual viveria até sua morte.
Guerrilha
A partir daí, Lamarca passou a viver em "aparelhos" na cidade de São Paulo. Sua rotina era acordar, comer, fumar, beber café, estudar, ler livros sobre Marxismo para aumentar seu conhecimento teórico e dormir. Nos primeiros meses de clandestinidade, conhece Iara Iavelberg, militante do MR-8, por quem se apaixona e passam a viver juntos. Sua primeira ação na luta armada acontece em 9 de maio de 1969, quando participa do assalto simultâneo a dois bancos no centro de São Paulo. Durante a operação, Lamarca mata com dois tiros o guarda civil Orlando Pinto Saraiva, quando este tentava impedir o assalto tentando atingir o sargento Darcy, companheiro de fuga de Quitaúna, na saída do banco.A VPR, porém, passa por um momento de grande desarticulação interna após a prisão de vários de seus integrantes, e realiza um congresso clandestino para discutir suas próximas ações. Nela, Lamarca é eleito dirigente. No meio do ano, a VPR une-se ao Comando de Libertação Nacional (COLINA) e ao pequeno grupo gaúcho União Operária e formam a VAR-Palmares. Durante estes acontecimentos, ele dá uma entrevista em lugar desconhecido à revista chilena Punto Final, onde diz que aqueles "ainda são os primeiros passos do que será uma longa e dolorosa guerra", e faz uma operação plástica que lhe diminui o nariz. Em novembro, sempre escondido e trocando constantemente de refúgios junto com Iara, chora emocionado diante da televisão com o anúncio da morte de Carlos Marighella.
O Vale do Ribeira
Depois de dez meses trancado em "aparelhos" na cidade, Lamarca deixou São Paulo em companhia de Iara e de mais 16 companheiros em direção ao Vale do Ribeira, onde o grupo pretendia fazer treinamento militar. No acampamento no meio da floresta, a intelectual Iara, psicóloga e professora de 25 anos, oriunda da classe rica paulistana convertida ao socialismo, deu aulas teóricas de marxismo aos militares e guerrilheiros do grupo. Ela retorna à cidade em algumas semanas por problemas de saúde causados pela duras condições do local - depois diagnosticado como hipotireoidismo - mas o grupo continua o treinamento até abril, quando a região é cercada pelo exército.No fim de abril, vários integrantes da VPR são presos no Rio de Janeiro, incluindo dois do Comando Nacional, Maria do Carmo Brito e Ladislau Dowbor Um dos presos deixa escapar que Lamarca encontra-se em algum lugar próximo do km 250 da BR-116.O local é o Vale do Ribeira, no sul do estado de São Paulo, em torno da região de Registro. Em 21 de abril, as Forças Armadas tomaram o local com 2.500 homens, mais um contingente de policiais cedidos pelo governo de São Paulo,bloqueou estradas vicinais, prendeu 120 pessoas, varreu a mata com helicópteros, fechou a Rodovia Régis Bittencourt e usou um B-26 da FAB para bombardear áreas civis suspeitas de abrigarem os guerrilheiros.
Os soldados, de dez unidades diferentes, entretanto eram em sua maioria recrutas com três meses de instrução, sem preparo de tiro e vários carregando mosquetões. Os guerrilheiros eram 17, e avisado, Lamarca desmontou as bases e enfiou-se fundo na mata. Oito deles conseguiram sair da região misturados à população e dois foram presos pelos militares, incluindo o ex-sargento Darcy Rodrigues, depois de se perderem do resto do grupo ao se aproximarem demais das tropas do governo para fazer observação. Sobraram sete para enfrentar o exército. Durante semanas, o pelotão formado por Lamarca, Ariston Lucena (de 17 anos), Yoshitane Fujimori, Edmauro Gopfert, Gilberto Faria Lima, José Araújo da Nóbrega e o ex-soldado da Brigada Gaúcha Diógenes Sobrosa de Souza,vagou pela mata do vale.
O primeiro encontro entre os grupos se deu em 8 de maio, quando os guerrilheiros, se passando por caçadores, entraram no vilarejo de Barra do Areado querendo alugar uma camionete. A Polícia Militar (então Força Pública) foi avisada e uma barreira montada em Eldorado Paulista. Com a aproximação do caminhão, os soldados pediram aos ocupantes que descessem e mostrassem os documentos; Lamarca e seus homens desceram atirando, feriram dois soldados, dispersaram a tropa e continuaram o caminho. O próximo confronto, na mesma noite, foi perto de Sete Barras. Cruzando com um contingente da PM, a luta é rápida e o treinamento dos guerrilheiros e sua superioridade em armamento - os fuzis FAL roubados de Quitaúna - decide o combate. A tropa de policias militares, um tenente, dois sargentos, dois cabos e onze soldados, estão mortos, feridos ou aprisionados. O comandante da tropa é o tenente Alberto Mendes Júnior, de 23 anos.
Feito um acordo entre Lamarca e o tenente, a barreira policial na estrada foi aberta em troca de devolução dos feridos e prisioneiros. Mendes seguiu com os guerrilheiros no caminhão, transformado em refém. Pouco depois na estrada, um outro comboio militar foi avistado e os guerrilheiros embrenharam-se na mata. Depois de dias caminhando, toparam com uma escaramuça entre duas tropas do exército, travado por tropas do 6º Regimento de Infantaria e do Destacamento Logístico, que atiraram umas nas outras pensando ser o inimigo, resultando em dois feridos, um tenente-coronel e um soldado. Na confusão provocada, dois guerrilheiros perderam-se do grupo e acabaram aprisionados dias mais tarde. Restaram apenas cinco homens e o tenente Mendes, prisioneiro do grupo.
Com a fuga sendo retardada pela presença de Mendes - que já havia tentado capturar uma metralhadora, impedido por Lucena- e a desconfiança de que ele os tinha levado a uma emboscada - o encontro anterior com as tropas do governo - Lamarca e seus homens decidiram matar o prisioneiro. O tenente Mendes foi então assassinado por Yoshitane Fujimori a coronhadas de fuzil - receosos de que um tiro pudesse mostrar sua localização aos perseguidores - tendo seu crânio esfacelado a pauladas e o corpo deixado na mata, em cova rasa.
Os cinco continuaram pela mata enquanto a busca por eles se intensificava, acampando por vários dias sobre uma grande pedra, para protegerem-se da chuva, alimentando-se de abacaxis e bananas. Por três vezes tentaram descer a algum povoado para comprar comida e por três vezes foram denunciados. Emboscados mais uma vez por causa das denúncias, desta vez por uma patrulha sob as ordens do coronel Erasmo Dias - que não participou pessoalmente da busca - escaparam mais uma vez pela floresta.
O rompimento final do cerco se deu 41 dias depois do início do mesmo. Famintos e com os pés feridos, o grupo resolveu tentar a sorte na estrada. O mais jovem, sem ficha na polícia, Gilberto Faria Lima, faz sinal para um ônibus da linha Sete Barras-São Miguel e vai embora sem ser incomodado. Na tarde de 31 de maio, os quatro que restaram, Lamarca, Ariston Lucena, Yoshitane e Diógenes, resolvem parar qualquer veículo que viesse pela estrada e tomá-lo. O primeiro a aparecer foi justamente um caminhão do exército, do Regimento de Obuses de Itu. Os ocupantes, cinco soldados, foram rendidos e deixados de cuecas dentro do veículo. Usando os uniformes da patrulha, o grupo seguiu nele até darem em uma última barreira perto de Taquaral. Parados por homens do exército e inquiridos para onde iam, Lucena respondeu com um simples: "É ordem do coronel".Sem maiores averiguações, a barreira foi aberta e às 22:30 da mesma noite, os guerrilheiros abandonavam o veículo na Marginal Tietê, na cidade de São Paulo, com os prisioneiros dentro, dispersando-se. Lamarca e seus homens tinha escapado da maior mobilização da história do II Exército.
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